Dia desses levei meu filho à natação. Primeira vez assim, ele e eu, somente. Experiência única, deliciosa.
Fomos de scooter. Nunca havia levado ninguém na garupa. Emprestei meu capacete novo, usei um antigo.
Ele nunca tinha andado de motoca. Foi rindo até a academia, vento batendo no rosto e braços apertados na minha cintura.
Pratica o esporte desde que nasceu. Com seis meses, fralda especial de piscina, sábados pela manhã, íamos para a aula e, ao som de cantigas infantis e rodeado de brinquedos coloridos, lá ia ele fazer meia dúzia de tchibuns.
Era tudo uma grande brincadeira, momento lúdico, para interagir com a água, se divertir.
Os primeiros passos para aprender a nadar.
Com o tempo, mudou de dia e de horário. Foi para a aula das crianças, duas vezes por semana, dias úteis, logo depois da escola.
Eu não conseguia mais acompanhar. Tinha os meus deveres e obrigações no trabalho. Faz parte.
Onze anos se passaram. Voaram, na verdade.
Eu aqui, agora, assistindo à aula dele, rosto grudado no vidro que nos separa, sorriso besta estampado, penso em tudo que aconteceu nesse tempo.
Onze anos de aulas. Ele aprendendo mais e mais.
Os brinquedos foram mudando para flutuadores de diversos formatos, pranchas especiais, palmar. Da fralda, passou para a sunga – mais um pouco usa uma minha – touca e óculos de natação.
Dos tchibuns nos braços de um professor para os mergulhos de cabeça, primeiro de joelhos, depois de pé, na beira da piscina. De mãozinhas buscando o brinquedo em forma de peixe para um braço tocando o azulejo ao terminar uma chegada.
Da piscina pequena para a grande. Havia comentado comigo, todo orgulhoso, que as aulas tinham passado a ser na piscina dos adultos, onde eu nado.
Mas é diferente VÊ-LO na mesma piscina que eu, com o mesmo professor, fazendo os mesmos exercícios.
É. O tempo, esse maledeto, passa rápido.
Ele começa um novo treino. Ondula pernas, uma braçada na direita. Ondula novamente, uma braçada na esquerda. Nova ondulação, uma braçada dupla. Opa, espera aí. Isso é borboleta! Ele está nadando borboleta? Como assim?
Fico surpreso, nunca tinha visto. Não fazia ideia. É difícil esse nado. Eu até faço – engano bem – mas chego quase morto, sem braços e ainda tomo uns dois litros da água da piscina no percurso.
Olho para o lado, quero compartilhar com alguém a minha surpresa. Diversos pais e mães em fila nas cadeiras ao lado, olhos enfiados nos celulares, curtindo e comentando fotos. Nem olham para a piscina. Bom, cada um na sua, fazer o que?
Volto a grudar a testa no vidro e fico ali mais alguns minutos sentindo o tempo passar, olhando cada movimento. É borboleta mesmo!
Noto que ele tem uma mania igual à minha: quando vai terminar um exercício, fica submerso no último metro, braço esticado à frente, corpo solto, só aproveitando o embalo da última braçada até tocar com a mão na parede. Demore o tempo que for. É uma delícia.
Acaba a aula, vai para o vestiário tomar banho. Em cinco minutos, já está pronto, mochila nas costas, cabelo ainda molhado. Sobe a escada, passa pela catraca, vem até mim e fala:
– Papai, vamos embora de motoca?
Essa é a diversão dele.
Eu ali, todo orgulhoso, dou um abraço apertado – daqueles de ouvir um ‘ugh’ – e pergunto da aula. Ele vai me contando sobre os exercícios até o estacionamento.
Coloca o capacete e emenda:
– Oba, vou tomar vento na cara de novo!
Subimos na motoca, braços apertados na minha cintura novamente. Vamos para casa felizes, cada um com algo novo para contar para a mamãe.