Uma mãe de adolescentes pergunta a um grupo de mães com filhos da mesma idade se tudo bem entrar no celular do filho para ler suas conversas, sem que ele saiba. O grupo entra em alvoroço. Algumas mães acham que sim, que “não só podem, como devem” checar o que se passa, outras condenam e acham essa atitude invasiva.
O fato é que muitos pais se angustiam em não saber o que se passa na cabeça dos seus filhos, já que até há pouco tempo, eles conheciam tudo sobre suas crianças, participavam ativamente de sua vida, das conversas e festinhas. Enquanto pequenos, a opinião dos pais era bastante valorizada, porém de uma hora para outra, eles são colocados de lado e deixam de ser o centro do mundo para os filhos. Assim, os pais são convidados a ocupar um novo lugar: não mais serão os pais da infância, mas sim pais de jovens.
Importante mencionar que é comum para alguns pais que sempre foram participativos e requisitados que fiquem mexidos e até ressentidos, pois sentem-se excluídos e privados das vidas de seus rebentos. Nesse caso, é útil lembrar que “adolescência” cuja etimologia vem do latim, onde ad = “para” e olescere = “crescer”, significa literalmente “crescer para”. Sendo assim, fica um convite para todos crescerem juntos, pois esta pode ser uma boa oportunidade para repensar os seus lugares.
À medida que os jovens tornam-se mais maduros e se aproximam da idade adulta, sua sexualidade entre em ebulição, eles entram em contato com seus novos desejos, suas fantasias e conflitos. É natural que prefiram os seus pares para compartilhar a intimidade e dividir suas primeiras experiências já que todos estão passando pelas mesmas fases. Ser acompanhado pelo grupo de amigos é reconfortante e fundamental, pois dá uma sentimento de pertencimento que ajuda bastante e tem um valor inestimável para os jovens.
Além do mais, para a maioria dos adolescentes, os pais são considerados ultrapassados, anacrônicos e incapazes de compreendê-los. O que não deixa de ser verdade em parte, já que o comportamento de uma geração para outra muda significativamente.
Diante das mudanças irremediáveis, as perguntas que saltam aos olhos são: o quanto os pais devem saber dos filhos, como protegê-los, o que é adequado?
Como psicanalista, penso que uma relação é construída desde os primórdios e a cumplicidade entre pais e filhos acontece em um longo caminho que é próprio do viver e do conviver. O respeito e a confiança são uma conquista delicada, resultados de uma convivência harmoniosa que se leva para toda a vida.
A presença dos pais na adolescência dos filhos é imprescindível, mas não deve ser sufocante. É preciso traquejo, bom senso e um bom manejo para ir soltando as rédeas aos poucos. Como numa dança, é preciso ajustá-las, apertá-las, soltá-las mais um pouco, apertá-las novamente, abrir os olhos, deixá-los semi-cerrados, deixar passar algumas coisas, outras não, pente fino, pente grosso, errar, acertar, reparar os erros, aparar as arestas. Uma das vantagens é que esse percurso vai se dando numa transformação paulatina. Assim, dá tempo de todos aprenderem juntos.
Afinal, como lidar com a intimidade dos nossos filhos que estão caminhando para o mundo adulto? Sugiro responder com outra pergunta: Como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles?
Para saber mais sobre os próprios filhos, nada melhor do que aproximar-se deles, chamá-los para uma conversa, observá-los, olhar nos seus olhos e usar a intuição de pais. O contato humano e a proximidade são imbatíveis e sempre serão mais verdadeiros e profundos do que um celular ou um gadget tecnológico.
Como analista, minha intenção é fazer um convite a uma reflexão profunda para que cada família encontre seu melhor caminho, com delicadeza e respeito, sem perder de vista que todos nós adultos temos direito à privacidade e aos nossos segredos. Por fim, a conquista da intimidade para um jovem que caminha para a idade adulta é fundante. A intimidade nos constitui como sujeitos e nos faz seres únicos. Merece, portanto, muita consideração.
Karin Szapiro | Psicanalista, membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, atende jovens e adultos em consultório particular.
Telefone: 98116-3355.
Ninguém tem por objetivo se meter na vida pessoal deles mas é que hoje realmente existem muitos episódios extremamente perigosos que têm sido facilitados pelo celular. Pedofilia muito bem disfarçada, cyberbullying, por exemplo. Mas acho que só cabe checar (ou conversar) se tivermos suspeita de algo. Não à toa, rotineiramente.