Falar sobre mães nem sempre é tarefa fácil. Afinal, corre-se o risco de recair sobre os velhos clichês que permeiam todo tipo de texto que homenageia figuras importantes na nossa vida. Do melodramático ao educativo, do psicológico ao bem-humorado, provavelmente todas as fórmulas literário-jornalísticas já foram esgotadas. Por isso, tentei criar aqui um guia de utilidade pública para mães e filhos, uma vez que generalizar sobre mães nunca é uma boa idéia, e ao contrario das roupas numa loja, você não pode escolher a sua. Ela vem como vem, e cabe a nossos filhos entender com qual tipo ele foi sorteado, e a você, amiguinha, ter o bom-senso de se localizar entre essas opções, e quem sabe entender melhor a SUA própria mãe. O guia abaixo traz uma lista dos tipos mais comuns de mães e suas principais características:
Mãe Guarda-Chuva – nada mais é do que a boa e velha mãe protetora. Aquela que se desdobra e faz de tudo para poupar o (a) filhinho (a) das agruras da vida, ou de alguma dificuldade ou pendência. Com suas atitudes ela toma as rédeas das situações, soluciona problemas e tira pesos dos ombros dos filhos, para impedir que eles passem por algum sofrimento. É uma mãe corajosa e generosa, mas que algumas vezes pode exagerar, evoluindo negativamente para a mãe control-freak.
Mãe Control-Freak – versão mais avançada e perigosa da mãe Guarda-Chuva, a mãe control-freak quer controlar todos os passos dos filhos, sufocando-os. Ela tenta criar um campo de força mental em torno dos rebentos, acreditando sempre saber o que é o melhor para eles, impedindo-os até mesmo de agir por conta própria. Embora esse tipo de mãe nasça com boas intenções, o exagero nunca faz bem a ninguém.
Mãe Vassoura – nada como uma mãe Vassoura para varrer a barra dos pimpolhos toda vez que eles aprontam alguma… é ela que conta o que a criança aprontou para o pai severo, é ela que vai pra diretoria da escola quando o filho se comporta mal; e quando os filhos são mais velhos, é ela que vai imprimir o texto que o filho negligenciou, compra o presente de aniversário do amigo que o filho esqueceu ou leva pra consertar alguma coisa que o filho quebrou. Acoplada à mãe Vassoura vem uma pá para recolher a poeira quando baixar.
Mãe Neurocirurgiã – fazer a cabeça dos filhos é com ela mesma. Quando acha que o filho deve se comportar de outro modo, ela não mede esforços para influenciar os pensamentos dos filhos com ações e diálogos altamente precisos. Com pericia medica sem igual, ela vai minando as defesas psicológicas da vitima com todo tipo de argumento devidamente estudado, até que ela seja persuadida. Um tipo bastante perigoso se não for mantido sob controle.
Mãe Pescadora – não adianta esconder nada deste tipo. Ela sabe. Ela vê. Ela tem o terceiro, quarto, vigésimo olho. Ela pesca todo tipo de medo, frustração, sensação e não sossegará enquanto você não contar o que esta acontecendo, assim como o pescador cata o peixe e ainda disseca o bicho.
Mãe Chef – coma, coma e coma; compulsivamente e sem parar, ate você sentir que a comida poderia sair pelas orelhas. E elogie. E volte sempre. Para agradar a mãe Chef, basta que você se alimente muitíssimo bem (ao menos na frente dela), dando a ela a sensação de que você não precisa de vitaminas extras. Ah! E não se esqueça das beterrabas, pois ela só vai sossegar se enxergar as manchinhas vermelhas no seu prato, que comprovam que você comeu ao menos uma.
Mãe Coruja – velha conhecida dos rankings maternos, ela faz questão de elogiar as pequenas e grandes conquistas filiais, da redação do primário que levou nota dez ao doutorado em Física Quântica. Tudo é motivo de orgulho.
Mãe Manteiga Derretida – mande um cartão, diga palavras gentis, mas sinceras, e pronto: você a conquistou. Ela é emotiva e sensível como poucos, e aprecia quando seus esforços são reconhecidos de verdade. Alguns filhos ingratos podem se aproveitar para tentar obter vantagens indevidas, e chantagem emocional não é muito bacana, de fato.
Mãe Mater Dolorosa – ah, filhos ingratos! A mãe que se sente injustiçada, sofrida, mal-interpretada, e pouco levada em consideração pelos filhos é conhecida como mãe Mater Dolorosa. Afinal, elas puseram filhos no mundo para que? Para que eles a esqueçam, ignorem, sintam vergonha delas e se mostrem independentes e mal-agradecidos como se jamais tivessem freqüentado o útero materno? E quem dava colinho às três da manhã? O mundo é muito cruel com as Mães Mater Dolorosas.
Mãe Dupla-Face – a mãe atual, que combina as tarefas de dama do lar com o trabalho externo. Para equilibrar as artes da domesticidade com uma carreira bem-sucedida, também pode ser chamada de Mãe Malabarista. Trata-se de uma espécie extremamente respeitada, embora possa sofrer da síndrome da culpa, caso considere que está deixando de desempenhar alguma de suas funções a contento.
Mãe Paz e Amor – leve, desencanada, adepta da política do “viva e deixe viver”. Procura criar poucas barreiras para os filhos, gosta de dar muita liberdade e acredita que um filho deve ganhar asas e voar sozinho para aprender com seus erros e crescer como ser humano. É um tipo bem raro.
Bom, eis a lista de identificação materna que pode ser muito útil como auto-análise. Se você se enxerga em alguma delas, maravilha; mas se você tem um pouquinho de cada, você entende que somos a soma de todas as qualidades e defeitos de todas as mães que vieram antes de nós. Dominar a arte da maternidade é abraçar nossos acertos e perdoar nossos erros, para que nossos filhos enxerguem em nós, mais do que os clichês, nossa humanidade.
Claudia Hemsi Leventhal | Mãe Guarda-Chuva, Pescadora, Coruja e Manteiga Derretida.