Já sabemos que a adolescência é uma época de muitas mudanças, sejam elas biológicas, marcada pela mudança dos corpos, ou sejam elas geradas pela intensa experimentação do novo.
Só não sabemos como ser pai e mãe de adolescentes. Nem sempre estamos preparados, como pais, para fazer os devidos ajustes e oferecer o apoio familiar necessário com objetivo de fortalecer nossos filhos e filhas nessa fase tão cheia de sentimentos, expectativas e medos.
Pois é, é difícil entender que aquela criança que eu conhecia não está mais presente. Como assim? Pois é, a adolescência é marcada pela fase das escolhas de quem queremos ser. Nossos filhos e filhas estão questionado todos os modelos e exemplos que conhecem. Mas eles não só questionam o jeito de ser dos pais e adultos, eles experimentam novos jeitos de ser, problematizam os valores e crenças da família e podem nos fazer um grande favor: transformar os pais. Sério? Sim, é importante perceber que quando nossos filhos e filhas entram na adolescência a nossa família também entra na adolescência.
Digamos que que enquanto eles estão nessa imensa “experimentação”, a família entra numa profunda “revisão”. Prepare-se: as famílias mudam, os tempos mudaram, as mudanças não param nessa época…e na vida.
Como estar preparado para essas mudanças? Boa pergunta, sem resposta única. Quando me perguntam se tenho alguma recomendação para pais dessa idade, sempre respondo com uma sugestão: visite sua juventude, lembre quem foi você e reveja, seja aberto a mudar conceitos e atitudes. Vamos achar muitas semelhanças entre nós e nossos filhos ou filhas.
Sim, já fomos jovens e já tivemos nossos medos: medo de não ser aceito no grupo; medo de não ser amado, medo de estar feio com aquela roupa e milhares de outros.
Não, não entendíamos esse enorme número de cobranças, de perigos (na leitura dos pais), esse jeito limitado de viver que nos impunham no cotidiano, todas essas regras e um jeito “certo” de me comportar, que não se encaixa com os verdadeiros desejos.
Ser adolescente não é fácil. Nossos sentimentos na adolescência são uma verdadeira bateria de escola de samba, e em função desse processo de decisão de quem queremos ser, muitas vezes nos afastamos dos pais. E é nesse momento que a saúde emocional dos nossos filhos e filhas pode estar em risco.
Intensidade é a palavra de ordem, e isso significa que as dores (por infinitos motivos) podem ser insuportáveis. Sim, nessa época eles podem nos odiar e com certeza achar que não somos “legais”. Mas é nessa hora que todos os processos de apoio serão necessários, e acredite, serão muitas vezes bem-vindos. Só precisamos perceber que as estratégias de apoiar e estar perto podem ser outras. Aquela criança que acalmava com beijinhos, pode estar mais distante e silenciosa, mas também pode se acalmar em perceber de outra forma que você se importa com ela.
Receba os amigos e amigas do seu filho ou filha em casa, converse, pergunte, respeite os isolamentos, mas ao mesmo tempo importe-se o suficiente para gerar algum momento de convívio: assista sua série predileta, vá aos shows ou vá buscar a galera no show, fique sabendo quem “fica com quem” e muitas outras particularidades. Ser pai e mãe de adolescente, é voltar a ser jovem! Boa sorte!
Mônica Zagallo Camargo |Terapeuta formada em Intervenção e Prática Sistêmica com Família, Mestre em Saúde Coletiva- Universidade Federal do Estado de São Paulo (UNIFESP) e Membro da Associação Paulista de Terapia Familiar
E-mail: monicazagallocamargo@gmail.com