Ah, o feriado. Tempo de descanso e de permitir aos filhos o prazer dos programinhas cheios de entretenimento saudável e procurando afastá-los dos tentáculos sedutores dos aparelhos eletrônicos.
Com isso em mente, fui com minha prole de dois a um desses parques cheios de camas elásticas. E como mãe participativa, quis dar o exemplo: em vez de ficar sentada usando o celular, por que não pular junto com eles? Um pouco de exercício, oras! Atividade em família! Afinal, eu ainda tenho um espírito bem infantil. Digo isso ao meu marido tentando convencê-lo a se juntar à farra, mas o olhar de “tu acha mesmo que eu iria” me cala rapidamente. Tudo bem, você não sabe o que vai perder, penso eu enquanto visto minhas meiazinhas antiderrapantes de corujas fofinhas.
Tudo começa otimamente bem. Os saltinhos tímidos e cheios de constrangimento inicial logo ganham altura e (certo) equilíbrio. Testo todos os brinquedos da casa e olho para os outros poucos adultos com a petulância de quem aprendeu uma coisa mais rapidamente que os outros. Decido então que já esta na hora de demonstrar também minha velocidade. Salto de uma cama para a outra. Na segunda meu pezinho 39 esbarra na borda e vou tropeçando, tentando me manter ereta ate me espatifar de cara na quinta cama elástica. Levanto. Olho para os lados com aquela risadinha natural dos que querem se enfiar na espuma como um avestruz. Meus filhos estão me olhando. Uma ri. O outro revira os olhos. Ninguém pra perguntar se estou bem, ingratos. Olho para cima e meu marido está na salinha de espera dos pais mais sábios, com uma cervejinha na mão e os olhos semicerrados que dizem: precisava, criatura?
Mas isso não me detém. Continuo pulando, saltando, correndo a hora inteira a que tenho direito. Meus filhos estão felizes em dividir esse momento comigo. Exceto nos vários momentos em que fingiram não me conhecer. Vai ver que estavam distraídos. Mas saí do recinto satisfeitíssima, me sentindo empoderada (palavra da moda, né?) e quase nada cansada. Quase.
Até acordar no dia seguinte. AS DORES!!!
Sim, é altamente libertador você se atirar em uma piscina de cubos de espuma como se não houvesse amanhã. Só que de fato o amanhã pode não chegar se eu continuar a ter dificuldade nas atividades normais para a sobrevivência humana, como respirar, levar o alimento à boca e ir ao banheiro. Meus ombros estão encostados nas orelhas, tamanha a tensão. As pernas parecem amarradas a bolas de chumbo.
Mas tudo bem. Acredito que em quatro dias estarei melhor e conseguirei voltar a andar ereta como um bom homo sapiens sapiens, e não um neanderthal curvo. Mas achei mais prudente agendar uma atividade mais leve para a semana que vem. Talvez xadrez. Só que vai que me arremessam um rei na testa, se perderem a partida…
Baralho, então. Um rei de copas é menos arriscado.
Claudia Hemsi Leventhal é advogada de formação, cantora por paixão e mãe de dois adolescentes