Quem não se pegou nessa quarentena se descabelando com o excesso de atividades a fazer? Ou a dificuldade em realizar questões que antes pareciam mais organizadas?
Sem duvida a queixa que os psiquiatras mais tem escutado em seus consultórios é em relação a ansiedade
A recente mudança forcada de cenário, onde tudo ficou junto e misturado (trabalho, casa, filhos, lazer, etc.) no início pareceu maravilhosa mas foi se mostrando uma armadilha ao longo do tempo.
O transporte, ou o trânsito, antes infernais se mostraram fundamentais justamente para essa “quebra “ entre casa e trabalho, que passou a não mais existir.
O sonho de trabalhar e estudar de casa passou a ser real…
O que mais temos escutado são pessoas cansadas, trabalhando muito mais horas que antes da quarentena, sem conseguir focar no trabalho já que ao mesmo tempo precisam ajudar as crianças na escola (em todos os sentidos), cuidar da casa, cozinhar, enfim, o limite entre essas atividades foi perdido e a sensação é de uma exaustão geral e alta cobrança por não alcançar as metas estabelecidas em nenhuma dessas áreas.
E quem já leu sobre o “zoom fatigue”? O imenso cansaço de precisar prestar atenção o dia todo em telas, onde não temos os dados presenciais das pessoas como cheiro, expressões do corpo, nuances de expressão enfim, é preciso gastar uma energia muito maior em reuniões online ,não só para entendimento do conteúdo mas das expressões e reações das pessoas, e como viraram a regra, reunião atrás de reunião acabam levando a um imenso cansaço, com relatos de pessoas que chegam a dormir durante o trabalho ou aulas, dado o imenso gasto energético e atencional.
Agora imaginemos essa situação para as nossas crianças, que também tem feito tudo online sentadas em uma mesma cadeira (nem sempre tao anatômica), mesma sala o dia todo, sem correr, sem ver os amigos presencialmente, sem fazer esportes (lembrando que estamos falando da parcela que tem a oportunidade de ter estrutura familiar e social para aulas à distancia).
Muitas simplesmente desistiram de fazer aulas online… algumas se adaptaram.
Muitos adolescentes sem a vivência real de grupo, de pares, tão fundamental nessa fase da vida.
Tudo isso acaba sendo o ambiente perfeito para instalação ou piora e quadros ansiosos.
Vale lembrar também que entre os problemas de comportamento na idade escolar, os transtornos ansiosos são os mais comuns podendo acometer até 10% das crianças e adolescentes.
Sendo assim, quais sinais são importantes de serem observados nas crianças ?
Em primeiro lugar, ansiedade e preocupação persistentes e excessivas em várias áreas da vida, incluindo desempenho no trabalho e escola. Podem aparecer sintomas físicos, principalmente em crianças menores que não sabem verbalizar seu sofrimento como dores inespecíficas, alterações gastrointestinais, inquietação, dificuldade de concentração ou “ter brancos”; irritabilidade; tensão muscular e alteração de sono.
Os sintomas em geral são desproporcionais ao fator que os originou. As crianças com o transtorno tendem a se preocupar excessivamente com seu desempenho (por exemplo na escola, em esportes) e as preocupações podem se alternar.
É importante lembrar que é preciso um prejuízo em alguma área da vida (escolar, social, familiar) para que seja feito o diagnóstico.
Uma boa maneira de ajudar a diminuir essa questão ansiosa na infância e o cansaço por telas é a manutenção de uma rotina com: horários de acordar, escola, refeições e lazer, além de intervalos entre as aulas online, levantando da cadeira e trocando de ambiente. A prática de atividade física em especial ao ar livre é fundamental
Outro ponto importante é tentar ajudar essas crianças e adolescentes a reduzir algumas expectativas em relação a si como rendimento e notas, já que se trata de situação de exceção, e a cobrança trará ainda mais sofrimento.
Uma vez identificado o transtorno ansioso, é importante buscar ajuda de um profissional de saúde mental, especialista nessa faixa etária, já que os sintomas e prejuízos podem ser minimizados com intervenção precoce. Vale lembrar que muitos transtornos ansiosos dos adultos tiveram inicio na infância e poderiam ter seu curso modificado se adequadamente tratados.
Danielle Herszenhorn Admoni | CRM 101404 SP