Falar de agrotóxico para um produtor orgânico é como ouvir um desafino numa ópera. Dói, e dói muito. Nós somos como médicos, estamos lá na terra todo dia, olhando, observando e entendendo como aquele processo de simbiose funciona. Acho que ninguém entende melhor de um assunto quando se está lá observando diariamente, constantemente e não precisa de uma grande faculdade ou um doutorado para entender o que a Mãe Terra tem a nos dizer.
Produzir organicamente, de forma sustentável não significa apenas não colocar agrotóxico nas plantações, significa PRESERVAR nosso ecossistema, nossa fauna, flora. E uma constatação triste é que seria utopia acreditar numa produção 100% orgânica, na verdade nós mitigamos uma situação, pois desde o surgimento do agrotóxico na Primeira Guerra Mundial (com as indústrias químicas) nosso solo e lençol freático já se contaminou ao longo de quase um século de uso desses venenos químicos. E pensar que comer uma verdura ou cenoura hoje pode não ser mais tão saudável assim se não souber a procedência. Por isso é hora de aumentar cada vez mais a procura para a oferta também crescer.
Produzir orgânicos é respeitar a saúde de quem está comendo e de quem está lá colocando a mão na terra, é pensar que o produtor orgânico não está ingerindo veneno gratuitamente sem direito de escolha. É se usar dos princípios mais inteligentes que surgiu há mais de milhões de anos, que é a inteligência da Natureza. Ela está aí para nos ensinar (e sem cobrar nada!) como cuidar do nosso Planeta. Afinal somos uma simbiose (natureza, humano).
Agora vem a “PL do veneno” querendo nos tirar ganhos mínimos alcançados. Nós que somos um dos países com o maior índice de uso de pesticidas corremos o risco de piorar nossa segurança alimentar. MAS O QUE É ISSO ? Vou explicar de forme breve e simples.
Esse projeto prevê uma mudança na lei de 1989. Dentre os pontos a serem mudados, sem muitas explicações, as palavras por si só já nos dizem o que a bancada ruralista quer:
-mudar o nome de “agrotóxico” para “defensivo fitossanitário”
-centralizar o registro dos agrotóxicos nas mãos do “Ministério da Agricultura” mudando então o atual modelo que está sob “vigia” da Anvisa e do Ibama.
-Tirar de fora questões como quantidade usada, local aplicado e o modo como usar o produto. Se realmente fossem usados com parcimônia, talvez reduziríamos algum mal…. mas nem isso…..
-Mudar a análise dos agrotóxicos proibindo apenas substâncias com “riscos inaceitáveis”
Precisamos dizer sobre teor político nesses itens? Essa “flexibilização” pode fazer com que o uso de agrotóxico aumente desenfreadamente. Um risco à nossa saúde, ao nosso ambiente, ao Planeta. Venho aqui dizer que produzir de forma orgânica é hábito, assim como começar uma dieta. No início estranhamos, mas com o decorrer do processo tudo se encaixa e a produção flui como qualquer outra. O que temos é interesse político e capitalista, falta de informação, incentivo baixo do governo, medo dos produtores de não conseguirem desovar sua produção e…… esses itens todos já passaram por uma Comissão Especial e agora pode ser aprovado no Plenário da Câmara.
Por isso grandes nomes como Bela Gil estão fazendo barulho para não deixar passar. Nós produtores também! Precisamos pensar em nossa saúde, pois comer saudavelmente é comer de forma sustentável e não simplesmente se alimentar de frutas e legumes, que repito, podem ser muito mais tóxicos do que as reais vitaminas que você procura.
Por isso não se pode calar. Procure pelo saudável de verdade. Já é um ótimo começo.
Deborah Gaiotto |Publicitária de formação e hoje idealizadora do projeto “Deborah na Fazenda”
Gerente Comercial na empresa “Fazenda Maria”. Ganhadora do prêmio “Mulher de Negócios 2013”. Em prol de um mundo mais consciente e sustentável.