Aprender a fazer uma papinha gostosa é vital para que a criança não apenas aprenda a comer de tudo, como também a ter uma boa nutrição.
Papinha é um tema complexo e que pode divergir demais de pediatra para pediatra, de nutricionista para nutricionista e, especialmente, de mãe para mãe e de criança para criança.
Minha pediatra, por exemplo, é a favor do uso de diversos ingredientes desde a primeira papinha, inclusive, o uso de um pouco de sal. Não muito sal, não é para temperar como a comida de casa, mas um pouco de sal, para que a comida não fique totalmente “insossa”. Importante dizer que ela aconselha que sejam usados ou sal marinho ou flor de sal, que são sais mais puros e, portanto, adequados para o uso nas papinhas dos bebes.
Mas, como eu não quero criar polêmica, fica a critério de cada mãe usar ou não este ingrediente. Não há estudos que comprovem que um pouco de sal faça mal ao bebê, mas que fique claro que o excesso de sal não somente pode prejudicar o funcionamento dos rins do bebê, uma vez que estimula a sede e obriga os rins a fabricarem mais urina para tentar eliminar o excesso de sal ingerido, como também pode atrapalhar o reconhecimento dos sabores dos alimentos, levando o bebê a não aprender à aceita-los futuramente.
Outro ponto importante sobre a forma como eu faço as papinhas dos meus filhos está na qualidade dos alimentos. Nos três primeiros meses da introdução alimentar eu uso exclusivamente produtos orgânicos e livres de transgênicos. Busco qualidade sobre preço, justamente para não sobrecarregar os rins do bebe. Entendo que o supermercado encarece, mas acredito mesmo que valha a pena, para que seja o mais saudável possível. E por que eu vou introduzindo alimentos não orgânicos aos poucos? Por que esta é a realidade da minha casa! Eu opto por comprar semanalmente minha feira e alguns produtos eu sigo preferindo orgânico, como: morangos, ovos, frango. Muitas vezes compro também folhas e tomates, mas se eu não encontrar, não deixo de comprar. Mas, de novo, tudo fica a critério de cada família e sua realidade. O mais importante é ter produtos frescos e com boa aparência para fazer as papinhas.
Por ultimo, mas não menos importante, e tão pouco menos polemico rsrsrs, a forma como a papinha for oferecida pode variar conforme o que seu filho e você se adaptarem. Na minha primeira filha eu tentei amassando com o garfo e ela afogou algumas vezes, resolvi ir para o mixer. Mantive a papinha batida desta forma até os 11 meses (com várias tentativas frustradas de apenas amassar ao longo do percurso), mas foi somente a partir desta idade que ela aceitou comer o arroz amassado. No entanto, continuava usando o processo mecânico na carne e alguns legumes e folhas, por que ela não aceitava que fosse de outra forma. Quando ela fez 1 ano e 1 mês, já estava tudo normalizado e já comia a comida da casa e só eram cortados em pequenos pedaços aquilo que de fato se faz necessário: carnes, legumes e folhas. Arroz, feijão e outros tubérculos ela comia normalmente, sem engasgue. Quando ela fez 1 anos e 2 meses viajamos para Escandinávia e passamos quase um mês viajando, não tivemos nenhum problema com relação a alimentação. Ela comia tudo e de tudo.
É importante ressaltar que o processo mecânico de corte (mixer ou liquidificador), quebram as fibras dos alimentos enquanto no amassar com o garfo, elas são oferecidas quase integralmente. Como meus filhos não tinham problema de evacuação (fazer cocô), não tive nenhum problema com a papinha oferecida após o processo mecânico. Ele não remove os nutrientes do alimento, ele apenas quebra as fibras, mas que não deixam de ser oferecidas ao bebê. Isto não é uma defesa ao método (pois o melhor é comer amassado mesmo), mas caso seja a forma que seu bebê opte por se alimentar, quero que você saiba que está tudo bem!
No meu segundo filho eu tentei a técnica BLW – Baby-Led Weaning (que em português significa o “desmame guiado pelo bebê”), ela é uma abordagem de introdução alimentar em que o bebê tem o seu desenvolvimento, ritmo e autonomia respeitados. Meu menino foi super bem com tudo que era macio: frutas (banana, pêssego, caqui) e alguns outros alimentos como brócolis e tomate. Mas, não foi bem aceito para outros, então, pela experiência que eu tinha com a minha filha, optei por bater tudo no mixer e assim seguimos até seus 1 ano e 1 mês, a partir daí ele aceitou a comida na forma como cozinhamos em casa.
E vocês podem estar se perguntando se hoje meus filhos comem bem. Minha menina tem 4 anos e come SUPER bem e de tudo. Ela come salada e depois a refeição quente. Meu menino, hoje com 1 ano e 7 meses, come até pedra, se temperar. Rsrsrs. Acho que o segredo está muito mais no fato de que eu e meu marido comemos com eles, à mesa, e nosso cardápio ser além de variado, rico em vitaminas e minerais. Comemos de tudo e este exemplo é fundamental para as crianças.
Existe o lado lúdico também. Para experimentarem algo novo, todo mundo é parente da batata frita (que vez ou outra sempre aparece no nosso cardápio), e ser tia da batata não é pra qualquer um, berinjela que o diga!
Outro ponto importante é que, embora eu esteja compartilhando com vocês aquilo que eu aprendi e apliquei na papinha dos meus filhos, todo mundo é livre para fazer aquilo que achar melhor e seu filho se adaptar! Se você não quer sal, não quer um processo mecânico para bater a papinha, se não quer adicionar gema de ovo (logo mais falaremos sobre ela), se você não quer seguir nada disso, somente seguir as receitas, sem adicionar complementos: você pode! Fica sempre a critério de cada um!
Minha recomendação é: use alimentos que você gosta e que não gosta! Eu, por exemplo, não sou fã de berinjela, já minha filha ama! Então, não se limite ao seu gosto, deixe seus filhos escolherem o que gostam ou não, mas não sem antes tentar diferentes formas de apresentação de um novo alimento.
Eu também começo a introdução vegetal por vegetal, por medo de alergias. Eu sou alérgica a canela e minha irmã muito alérgica a diversos alimentos, por ter isso na família, comecei sempre aos poucos. Graças a Deus meus filhos não são alérgicos a nada do que provaram até hoje, mas tenho a consciência de que o processo valeu a pena.
Nos próximos posts, dicas práticas!
Gabi Junqueira | Cozinheira Internacional, chef na Você Gourmet Gastronomia. Formada em Cozinha Internacional pela escola Wilma Kovesi, especializada em comida francesa pelo Institut Paul Bocuse, na França, e pós-graduada em Cozinha Avançada com ênfase em química dos alimentos, pelo SENAC. Bartender pela New York Bartending School.
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