Adolescentes que se automutilam. E agora? | Mamis na Madrugada

A maioria das pessoas já deve ter ouvido alguém falar “nossa, você viu? A Maria se cortou toda no braço..” Ou mesmo entre os adolescentes “você viu a Ana quando tirou a roupa? A barriga dela é toda cortada! Minha mãe não gosta que eu seja amiga dela” – essas situações estão cada vez mais comuns nos consultórios de Psicologia e Psiquiatria ultimamente. E infelizmente, vêm recheadas do preconceito que os transtornos mentais carregam… “minha mãe não quer que eu seja amiga dela”, ou na fala da própria paciente “fico cada vez mais sozinha, ser assim assusta as pessoas!”

Mas, do que estamos falando? Qual e esse sofrimento, qual é esse diagnóstico que leva as meninas (a grande maioria de portadores de TPB são mulheres, atualmente se fala que em torno de 75% dos portadores sejam do sexo feminino) a se auto mutilarem?

Como o próprio nome sugere (Boderline – “linha da borda”) a pessoa que sofre deste transtorno está no “limte”, na fronteira da saúde mental (como costumamos falar, está entre a neurose e a psicose).

Os sintomas mais comuns são (aqui aproveito pra esclarecer que as auto lesões são apenas um sintoma de um conjunto que deve ser considerado):

– Ansiedade ou depressão

– Sentimento permanente de vazio

– Medo do abandono ou solidão

– Instabilidade nas relações interpessoais

– Agressividade (raiva intensa e dificuldade em controlá-la)

– Comportamento de risco / impulsivo (imediatismo desregrado) – Auto agressão / mutilação

– Ideação suicida

– “Amores exagerados”

– Incapacidade de sentir prazer (anedonia)

 

As falas que mais escuto no consultório quando atendo um paciente com esse quadro são mais ou menos assim: “Não estava sentindo nada, me cortei pois precisava pelo menos sentir dor” como também “estava tão triste que precisei me cortar pra sentir uma dor maior”.

Será que conseguimos mensurar o sofrimento desses relatos? Então, fica aqui um apelo… ao invés de apontarmos o dedo, proibirmos nossos filhos de terem contato, chamarmos de ‘loucos’, vamos ajudar, avisar a escola, aos pais, oferecer ajuda, encaminhar. E como podemos fazer isso?

No transtorno Boderline, como todo distúrbio psicoemocional, o desgaste não se limita apenas ao portador. E nesses casos, a falta conhecimento e de identificação que se trata de uma doença, torna tudo ainda mais dificil. A informação pode salvar vidas!

Aqui em São Paulo, temos um Serviço gratuito no Hospital das Clínicas, dentro do Instituto de Psiquiatria, chamado PRO-AMITI (proamiti.secretaria@gmail.com) e também o serviço gratuito da UNIFESP. Assim como psicólogos e psiquiatras capacitados para atender e acolher pacientes e familias.

Lembrando, como psicóloga, que tratamento psicoterápico precisa estar associado ao tratamento medicamentoso da Psiquiatria para resultados mais efetivos e duradouros.

 

Fernanda Grimberg | Psicóloga Clínica e Hospitalar (Adulto e Infantil)

Email: psicologafernandagrimberg@gmail.com

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