Pessach | Mamis na Madrugada

A próxima festa judaica que se aproxima em nosso calendário é Pessach, também conhecida como a “Festa da Libertação” onde é celebrada a fuga do povo judeu, que vivia como escravo no Egito. A palavra Pessach na língua hebraica significa passar além, tanto no sentido concreto como simbólico da palavra.

No dia 08 de abril de 2020 a noite será o primeiro Seder de Pessach onde um dos costumes é ler um livro chamado Hagadá, quase um manual dos ritos daquela noite e mistura também com a história do povo judeu no Egito. E uma das passagens dele está escrito uma pergunta: “Por que essa noite é diferente de todas as outras?”. A coincidência da compatibilidade com o momento atual nunca foi tão grande.

Na religião judaica há uma diversidade de linhas religiosas, todas tem suas formas diferentes de agregar valores desta festa. E neste momento, em nosso grupo das Mamis, encontramos várias mulheres judias inquietas com os preparativos da noite de Pessach e ao mesmo tempo saudosas que não será aquela reunião numerosa de familiares queridos. É aqui que devemos pensar na força de Miriam, irmã de Moysés. De acordo com passagens da Biblia, ela enfrentou com fé e otimismo todos os momentos difíceis que o povo judeu sofreu como escravos no Egito. Um episódio que vale a pena destacar foi quando Miriam como profetisa sabia que a libertação estava próxima juntou as mulheres para fazer pandeiros. Na travessia do Mar Morto ela liderou todo o seu grupo com um cântico, tocavam seus instrumentos com tanta devoção que a alegria delas superou a dos homens. Assim devemos ser fortes e positivas neste momento delicado também.

Este Pessach possibilita a oportunidade de um desafio com o ganho de novo aprendizado perante tantas angústias em fazer um Seder bem especial ao ado de nossa família nuclear. Nos próximos parágrafos separei alguns destaques que seriam interessantes a serem  vivenciados por todos, principalmente pelas crianças.   

A preparação para a festa se inicia alguns dias antes onde é realizada uma faxina na casa para remoção de todos os alimentos fermentados chamados  de “chametz”.  Esses mantimentos podem ser colocados e trancados em um armário da casa que não poderá ser aberto durante a semana de Pessach ou podem ser doados também.  Realizar uma brincadeira com as crianças de limpeza da casa, especialmente em um momento em que muitos estão sem ajuda de funcionárias do lar, pode ser uma forma lúdica de tirar toda farinha, fermento, biscoitos e chocolates e colocá-los em determinados esconderijos.

A palavra Seder significa ordem na língua hebraica, nesta ocasião a história de Moysés e a saída do Egito são narradas, de forma simples e clara, com a ajuda do livro conhecido como Hagadá para as crianças participarem ativamente dessa noite além de rezas e canções judaicas. O livro contém 15 “capítulos” que incluem diversos ensinamentos que são representados por alguns objetos simbólicos que devem estar expostos na mesa para serem utilizados como o prato especial colocado no centro da mesa chamado Keará que é dividido em seis partes onde em cada uma é colocado um alimento diferente com simbologia para lembrar a história. É comum encontrar aquelas famílias que sempre passam a festa na casa de outros parentes não terem este livro, assim com a tecnologia a nosso favor, podemos encontrar Hagada on-line com explicações em português. E para aqueles que não compraram o prato especial de Pessach, a Keará, pode ser feita com prato comum descartável, busca as figuras e explicações também na internet, envolve com contact e posiciona os alimentos em cima de cada espaço correspondente a foto e/ou palavra.

Um alimento imprescindível neste jantar é a matzá, super necessário comprar nos supermercados especializados em comidas judaicas. E o que é isso? A explicação é se não podemos comer alimentos fermentados, o que substituirá o pão durante essa semana? Outro nome de Pessach é Festa da Matzá conhecido como pão ázimo.  Quando Moysés volta para o Egito e pede para Faraó libertar os judeus, ele se recusa e Deus envia as 10 pragas. Após a última praga, Morte dos Primogênitos, na qual os judeus se salvaram porque marcaram o batente da porta de entrada de suas casas com sangue do carneiro, originou-se a Mezuzá, outro símbolo judaico. O filho primogênito do Faraó faleceu, ele não aguentou a dor e a pressão de Moysés e libertou o povo. Preocupados com a possível desistência desta decisão, fugiram o mais rápido possível naquela noite e assim não deu tempo do pão ficar pronto com todo seu processo de fermentação. Durante o Seder comemos muitos pedaços de matzá e até é realizada uma brincadeira que é a procura do Afikoman, após o jantar algum adulto esconde um pedaço de matzá embrulhado no guardanapo e as crianças devem procurar e após achá-lo , este pedaço deve ser dividido por todos participantes do Seder e ser a última coisa a ser degustada para irmos embora com o gosto de matzá em nossa boca.

Uma das passagens mais bonitas do livro Hagadá, em minha opinião, menciona assim: “Be chol dor va dor chaiav adam lirót et atzmó keilu hu iatzá miMitzraim”“A cada geração devemos sentir como se nós mesmos tivéssemos saído do Egito”. Nesta noite especial e diferente de todas as outras, cada pessoa deve se sentir como se ela estivesse saindo daquele lugar e contar para a próxima geração, ou seja, seus filhos. Nós testemunhamos um enorme milagre de Deus ao separar as águas em duas paredes, permitindo que os judeus passassem, e depois voltassem ao seu curso normal impedindo os soldados egípcios de capturar novamente o povo judeu. Estamos no mês Nissan cuja grafia envolve a palavra em hebraico ness que significa milagre. Assim além do milagre da libertação do povo,  vamos pedir pela cura desta doença e o combate ao vírus.

Finalizo o texto com a mensagem de “Pessach Kasher ve Sameach”  que seja um período de lembrança forte de nossa história  e que a humanidade tenha a liberdade  de ir e vir, ter suas opiniões e escolhas no mundo atual sem conflitos e permaneçam unidos! Amén!

 

Daniela Jarczun Fridman | Pedagoga, Psicopedagoga, Professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental 1, Professora particular de Português, Inglês e Hebraico, mãe do Ariel e Ilan.

 

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